Por Isaac Melo
A igreja foi planejada por Deus para ser o lugar onde os seus filhos vivem em comunhão, adorando a Deus e amando uns aos outros. E, quando se trata de amar o próximo, vemos diversas vezes na Bíblia o incentivo ao amor prático. É um amor que vai além das palavras.
A Bíblia fala em Romanos 12.15 que devemos nos alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. Não se trata de uma identificação apenas exterior com o sentimento do próximo. Mas significa se colocar no lugar do outro, sentindo a dor do outro como se fosse sua. E, quando sentimos verdadeira compaixão, nos tornamos disponíveis para satisfazer a necessidade alheia.
Por isso, a igreja deve estar presente onde houver alguém necessitado, assim como Jesus, que dedicou boa parte do seu ministério para alcançar os pobres e necessitados. A presença da igreja deve causar um impacto tão significativo, que transforme a realidade daqueles que são alcançados por ela.
Em toda a Bíblia, Deus demonstra compaixão por aqueles que estão necessitados. Ele convoca os seus filhos para se juntar a Ele e atender quem precisa. No Velho Testamento, vemos o clamor do Senhor para que o seu povo se preocupar em suprir os necessitados que houvesse no seu meio.
Algumas das repreensões de Deus foram relacionadas à desobediência quanto a esse mandamento. Como vemos no livro de Isaías:
“Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável ao Senhor? “O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo?” (Isaias 58.5-7)
Nesse texto, o Senhor denuncia a hipocrisia do povo, que tinha práticas religiosas, mas continuavam sem compaixão pelo seu próximo. O culto deles não era aceitável ao Senhor, porque na sua vida cotidiana continuavam em pecado. Quando lemos o capítulo inteiro, há o relato que eles brigavam, oprimiam uns aos outros, mentiam, agiam com falsidade e, principalmente, não socorriam os necessitados.
Deus, na verdade, rejeita qualquer demonstração religiosa que não seja acompanhada de atos de justiça, especialmente, aqueles que visavam satisfazer os necessitados.
No Novo Testamento, o apóstolo Tiago nos lembrou o que Deus considera uma religião autêntica:
“A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo.” (Tiago 1.27)
Aprendemos com esses textos que parte essencial da nossa vida espiritual é olhar com compaixão para aqueles que precisam. Deus nunca pensou em ter filhos somente para estarem sentados em um banco de igreja. Ele sempre desejou ver seus filhos, não apenas falando de amor, mas agindo com amor.
É cômodo pensarmos que vir a igreja é tudo que Deus espera de nós. Ser cristão é, na verdade, ser como Cristo. E Jesus, enquanto esteve aqui, fez o bem por onde passava. Ele curou, libertou e alimentou os necessitados.
Quanto a esse assunto, precisamos saber que não é apenas quem recebe ajuda que é abençoado. Pois, quando somos generosos, Deus multiplica a sua benção em nossas vidas. Veja esse texto do livro de Provérbios:
“Há quem dê generosamente, e vê aumentar suas riquezas; outros retêm o que deveriam dar, e caem na pobreza. O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá.” (Provérbios 11.24-25)
Ou seja, a generosidade é a causa da prosperidade. Mas o egoísmo resulta em pobreza.
O apóstolo Paulo, quando estava incentivando os irmãos de Corinto a se juntarem na assistência aos irmãos de Jerusalém, deixou claro que aquele que dá com generosidade e alegria terá suas necessidades supridas também. Ademais, verá Deus multiplicar o que ele já tem.
“Cada um dê conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus ama quem dá com alegria. E Deus é poderoso para fazer que toda a graça lhes seja acrescentada, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra. Como está escrito: “Distribuiu, deu os seus bens aos necessitados; a sua justiça dura para sempre”. Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão ao que come também lhes suprirá e multiplicará a semente e fará crescer os frutos da sua justiça. (2 Coríntios 9.7-10)
Muitos podem usar textos como esse, para achar que dar generosamente é uma forma de investimento com retorno garantido. Se eu dou, Deus vai me dar muito mais em troca.
Mas esse não é o princípio. O princípio aqui é o da generosidade, não o do egoísmo. Pois, se dou esperando receber algo em troca, não estou agindo com amor, mas com interesse.
Pois Deus ama quem dá com alegria e não quem espera receber. Deus ama quem tem alegria em doar, em ver o próximo satisfeito.
É interessante que o versículo 8 diz que podemos confiar que Deus é poderoso para “fazer que toda a graça lhes seja acrescentada, para que em todas as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em toda boa obra”.
Ou seja, o que Deus acrescenta como resultado da minha generosidade vai me permitir ser ainda mais generoso. Pois quem é generoso, quanto mais tem mais doa. Mas quem é mesquinho, tendo pouco ou tendo muito, não consegue dar, pelo menos não com alegria.
Quando somos igreja que supre as necessidades, isso também se tornará um testemunho poderoso ao mundo. Jesus disse que todos saberão que somos seus discípulos, se amarmos uns aos outros (Jo 13.35).
Ou seja, seremos identificados com Jesus, antes de tudo, pelo amor que tivermos uns pelos outros. As pessoas olharão para a igreja, como cuidamos uns dos outros, como nos importamos, como não nos esquecemos, como suprimos os necessitados. E tudo isso comprovará que somos realmente discípulos de Jesus. Crerão na nossa mensagem, pois verão como vivemos o que pregamos.
A igreja de Atos é o exemplo perfeito da prática desse mandamento. Atos 4.34-35 diz que “não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um”.
Não havia pessoas necessitadas entre eles! Pois ninguém considerava unicamente sua qualquer coisa que possuísse. Quando, em uma comunidade, as pessoas não consideram que seus bens devem servir somente si mesmos, aí existe a possibilidade real de não haver necessitados.
Quando somos generosos mostramos ainda ser filhos de Deus. Pois o filho de Deus ama até seus inimigos, quando ele tem fome, dá-lhe comida, quando tem sede, dá-lhe bebida (Rm 12.20). Isso é a prova que somos filhos do Pai celestial, que faz raiar o sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos (Mt 5.44-45).Quem tem o amor de Deus em seu coração, se tiver recursos materiais se compadece do seu irmão necessitado (1 Jo 3.17).
Perguntas para refletir:
1. Porque Deus rejeitou o culto e o jejum de Israel, de acordo com Isaias 58?
2. O que Deus espera que façamos pelo nosso próximo como parte de nossa prática religiosa?
3. Qual o resultado da generosidade em nossas vidas?
4. O que tornou a igreja de Atos uma comunidade em que não havia necessitados?
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