Por Isaac Melo
O jejum é a abstinência total ou parcial de alimentos por um período definido e propósito específico. Ele tem sido praticado pela humanidade em quase todas as épocas, nações, culturas e religiões.
Pode ser com finalidade espiritual ou até mesmo medicinal, pois traz grandes benefícios físicos com a desintoxicação que produz no corpo. Em 2016, um pesquisador japonês ganhou o prêmio Nobel de Medicina, pois em seu estudo comprovou que a restrição alimentar auxilia na renovação celular e na limpeza interna do organismo.
Mas o nosso enfoque sobre o jejum é o enfoque bíblico.
Para começar, precisamos saber que o jejum, embora não seja um mandamento, é algo esperado de nós por Jesus. Assim, embora não haja um imperativo acerca dessa prática, a Bíblia está cheia de menções sobre o jejum. Falando de pessoas que jejuaram e como fizeram, além de nos instruir a forma correta de praticá-lo.
O principal ensino de Jesus sobre o jejum está em Mateus 6.16-18:
“Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os outros vejam que eles estão jejuando. Eu digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, arrume o cabelo e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê em secreto. E seu Pai, que vê em secreto, o recompensará.”
Embora Jesus não esteja mandando jejuar, suas palavras revelam que ele esperava de nós esta prática. Pois ele diz “Quando jejuarem” e não “Se jejuarem”. Revelando a expectativa de Jesus que praticássemos essa disciplina.
Ele nos instrui até a motivação para fazer jejum. Além de deixar claro que o pai recompensará quem praticar o jejum da maneira correta. Ou seja, o jejum produz bons resultados.
Vale destacar que o próprio Jesus jejuou antes de iniciar seu ministério na Terra. Como seguidores de Jesus, o simples exemplo dele deveria ser suficiente para nos levar a fazer o mesmo. É muito importante seguirmos o exemplo de Jesus, quanto à prática do jejum, mas também quanto à motivação e a forma certa de jejuar.
Foi por praticar o jejum da forma errada que Deus repreendeu o povo, como está em Isaias 58.3,4:
Contudo, no dia do seu jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês e exploram os seus empregados. Seu jejum termina em discussão e rixa e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto.
Não devemos praticar o jejum para simplesmente conseguir algo de Deus. O jejum não nos torna merecedores de benções divinas. Pois ele não é uma prática que produz resultados isoladamente. Ele é o hábito de alguém que procura viver em santidade e quer se aproximar de Deus. Então não é só jejuar, mas viver a vida de qualquer jeito.
Como Jesus disse em Mateus 6, o jejum também não deve ser praticado para receber algo das pessoas, como elogios e admiração.
Se não é com essas motivações que devemos jejuar, então, com qual propósito devemos praticá-lo?
Kenneth Hagin disse acerca do jejum: “O jejum não muda a Deus. Ele é o mesmo antes, durante e depois de seu jejum. Mas, jejuar mudará você. Vai lhe ajudar a manter-se mais suscetível ao Espírito de Deus”. É interessante também a observação do Pr. Luciano Subirá, que diz que: “O jejum não tornará Deus mais bondoso ou misericordioso para com nós, ele está ligado diretamente a nós, à nossa necessidade de romper com as barreiras e limitações da carne”.
Diante dessas afirmações podemos dizer que o propósito principal do jejum é mortificar ou enfraquecer a carne. Quando falo de carne, me refiro à nossa tendência ao pecado, à nossa natureza que sempre quer nos levar para longe de Deus.
Existe uma batalha contínua entre a nossa carne e o nosso espírito, como diz em Gálatas 5.16-17:
Por isso digo: Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne. Pois a carne deseja o que é contrário ao Espírito; o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro, de modo que vocês não fazem o que desejam.
Praticar o jejum vai enfraquecer a nossa carne e fortalecer o nosso espírito. E o espírito é a nossa parte que nos conecta à Deus. Quando jejuamos fortalecemos a nossa conexão com Deus, porque o nosso espírito está mais forte.
O jejum atinge uma necessidade básica do nosso corpo, que é o alimento, para nos ajudar a nos desprendermos desse mundo e podermos nos focar no mundo espiritual. Ao jejuarmos também fortalecemos a nossa fé e nos tornamos mais suscetíveis à voz do Espírito Santo.
Quando Jesus disse aos discípulos que não puderam expulsar um demônio por falta de jejum (Mt. 17.21), ele também destacou que faltou fé a eles. O jejum ajuda a liberar a nossa fé.
O jejum aliado com a oração é um instrumento poderoso para resistirmos às tentações, nos fazendo conseguir superar aquela atração que, muitas vezes, parece irresistível pelo pecado.
Apesar do propósito central do jejum ser enfraquecer a carne para que o nosso espírito prevaleça, vemos vários exemplos bíblicos de outros motivos para essa prática.
No Velho Testamento, o jejum era praticado em diversas situações, como: consagração a Deus (Nm 6.3,4); arrependimento de pecados (1 Sm 7.6, Ne 9.1); em sinal de luto (2 Sm 1.12); em situações de aflição e perigo (2 Cr 20.3); em busca de proteção, (Ed 8.21-23); como forma de intercessão (Dn 9.3, 10.2,3).
No Novo Testamento, o jejum foi usado como: forma de preparar-se para a batalha espiritual (Mt 17.21); como forma de adorar ao Senhor, como Ana (Lc 2.37) e os líderes da igreja em Antioquia (At 13.2); para consagrar e enviar pastores e líderes (At 13.3 e 14.23).
Existem mais duas orientações importantes quanto ao jejum.
A primeira se trata das diferentes formas de jejum. Existe o jejum parcial, ou seja, quando nos abstemos de apenas alguns alimentos, como o que Daniel fez (Dn 10.2,3). Por ser parcial pode ser praticado em períodos maiores ou quando a pessoa não tem condições de se abster totalmente do alimento, por causa do trabalho ou de saúde.
Temos também o jejum normal, que é a abstinência total de alimentos, mas com ingestão de água. Foi a forma que Jesus adotou quando jejuou no deserto.
Ainda existe o jejum total, que é abstinência de alimento e de água. Não existem muitos exemplos na Bíblia de pessoas que praticaram esse tipo de jejum. Apenas Ester, num momento de crise em que os judeus estavam condenados à morte (Et 4.16). O apóstolo Paulo, após sua conversão, ficou sem comer nem beber durante três dias (At 9.9).
Moises (Ex 34.28) e Elias (1 Re 19.8) também se submeteram a esse tipo de jejum durante quarenta dias, mas isso aconteceu em circunstâncias especiais. Mas jejum sem água não é recomendado pela medicina, pois é muito prejudicial ao corpo. Então você só deve praticá-lo se tiver certeza que Deus está lhe direcionando a isso.
É importante ao jejuar, você não ignorar os limites do seu corpo e da sua saúde. O propósito do jejum é lhe trazer benefícios espirituais, mas não prejuízos ao seu corpo. Dependendo da sua condição de saúde, antes procure um médico para ver que tipo de jejum você pode praticar.
A outra orientação é quanto ao tempo de duração do jejum. Na Bíblia vemos jejuns que vão de um a quarenta dias. Isso tem a ver com o que você propôs em seu coração ou a direção que Deus lhe der.
Embora existam períodos em que vamos sentir mais necessidade de praticar o jejum, por direção divina ou por alguma situação que estejamos vivendo, creio que o jejum normal de um dia de duração é algo que os cristãos devem praticar mais.
Por que tanto se praticou o jejum no passado, mas o negligenciamos hoje? Acredito que, em primeiro lugar, seja porque temos falado pouco sobre essa disciplina espiritual. Mas acredito que, principalmente, seja porque não queremos nos sacrificar deixando de comer. Parece um vício entre os cristãos, sempre temos que comer algo quando nos encontramos. O que muitas vezes tem nos levado a cair no pecado da gula.
Por outro lado, quando alguém está disposto a abrir mão da comida por um período de tempo, conseguirá também abrir mão de qualquer pecado.
Perguntas para meditar:
1. O que é jejum?
2. Quais benefícios ele traz para a nossa saúde física e espiritual?
3. Você praticou o jejum? Compartilhe a sua experiência.
4. O que tem lhe impedido de praticar essa disciplina espiritual?
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